terça-feira, 26 de abril de 2011

Continuação dos recuerdos

Em continuação aos recuerdos....hoje foi incrível. Peguei o ônibus em São Paulo da Praça da Árvore para o Aeroporto e entrei no bairro de Moema pela Avenida Ceci e Aratãs. Foi nesse bairro que dei meus primeiros passos. Nasci em São Paulo, no bairro do Bexiga, e cresci em Moema, não me lembro o nome da rua, mas vou perguntar a minha mãe. Desse tempo, pequenina que eu era, tenho a memória distante de ladrilhos vermelhos da garagem. E dos passeios à casa do Nonê e Laide, e de como aquilo marcou minhas primeiras lembranças de vida. 

domingo, 24 de abril de 2011

Recuerdos

É gostoso viajar no tempo. Estou em São João da Boa Vista, visitando minha mãe que está hospitalizada. Entre idas e vindas do hospital, onde ela se recupera bem, muitas lembranças me assaltaram. Lembranças boas, momentos de infância, família enorme, todos reunidos para as festas e férias na casa de meu avô. Minha mãe nasceu aqui, e aqui passamos boa parte de nossos momentos de lazer na infância.
A casa, antiga, tinha degraus de mármore branco na entrada, e portão de ferro com as iniciais de meu bisavô Capitão José Alexandre. 
 (Festa da família - 2003)
O jardim lateral, sob os olhos de uma comprida varanda de ladrinhos, tinha um pequeno tanque de peixinhos, diversão da meninada. Muitos tios e tias e primos e primas, e um sem fim de visitas. O chão da casa era de tábua corrida, encerada com óleo, os cômodos grandes, a mesa da sala de jantar enorme e sempre acolhedora. Na parte dos fundos, ficava a cozinha, onde o falante papagaio Mulata cantarolava ao som das frituras de Inês, nossa governanta, cozinheira, amiga. Dela guardo como recordação, até hoje, uma toalha de crochê que me deu de presente em meu primeiro casamento, há 31 anos.
Da cozinha, podíamos descer pela escadaria do quintal. Ali era nosso refúgio e o lugar que mais marcaria minhas experiências de vida, de companheirismo, de fidelidade, de amor. Primos e primas nos fartávamos com as frutas - principalmente mangas e jaboticabas. Subíamos nas árvores, que eram nossas naves espaciais, entrávamos no galinheiro proibido (era velho demais). Uma tarde entrei e uma das varetas se quebrou. Minha perna ficou presa e eu, pequena e medrosa, chorei muito, até que minha madrinha me tirou dali. Eu, com certeza, me assustei muito, pois me lembro bem disso. Gostávamos de entrar nos cômodos antigos do porão e mexer em tudo, papéis de comércio antigo, móveis, sempre uma arte nova. Meus padrinhos ficaram morando na casa depois da morte de meu avô, e criavam galinhas e patos. Meu padrinho tinha um galo de estimação, o Coronel, que corria atrás de nós. Morríamos de medo do Coronel, com sua imponente crista.
Um lugar que eu curtia muito era um quarto dos fundos da casa onde havia uma estante cheia de revistas de fotonovelas. Sempre fui grande leitora, e adorava ficar por horas a fio lendo e sonhando os sonhos daquelas figuras em preto e branco que sofriam por amor, onde, no final, os amantes se encontravam, eram felizes para sempre, e o mal era sempre punido. 
Em frente à casa, a praça Joaquim José, a principal da cidade na época. Uma linda praça, que também virava casa, abrigo, lugar de jogos, brigas e riso. Meus joelhos guardam até hoje as marcas dos tombos na estátua central.
Perto dessa praça, a igreja matriz, onde minha irmã mais nova e eu fomos batizadas. Me lembro de meu batismo, eu já era grandinha, uns 4 anos, talvez. Lembro-me de nossas madrinhas queridas, Tia Ruth, madrinha da Belê, e Tia Eny, minha madrinha. 
Ali também se ergue, até hoje, um imponente teatro municipal, hoje reformado, lindo. Um dia, em uma sessão de cinema, ganhei meu primeiro beijo. Claro que detestei, eu devia ter uns 10 anos. Mas nunca mais esqueci. A doçura da memória ficou. Ao lado do cine-teatro também tomávamos sorvete e comprávamos chicletes de tuttifrutti. Delícia!! Ping-pong!
E falando em ping-pong, ainda nos divertíamos muito na Esportiva, com sua recém inaugurada piscina olímpica, e onde cheguei a ser convidada a treinar para competir com a equipe de natação.
São João tinha, então, uma excelente equipe de nadadores e tenistas, sempre ganhando os primeiros lugares dns competições. Foi um orgulho imenso receber o convite, mas eu era muito jovem, e não morava aqui. Foi inviável, mas como eu disse antes, a doçura da memória ficou. 
Deliciosos bailes de carnaval na Esportiva, mesas de ping pong (a gente não chamava de tênis de mesa), amigos e amigas, conversas, brincadeiras. Aproveitei muito esse tempo.
E os Natais? Todo o mundo vestido no melhor estilo, presentes sob a árvore de Natal numa sala onde não podíamos entrar, pois era a sala de visitas, onde ficava o piano. Só entrava ali quem estudava piano. E as visitas, claro. Mas na noite de 24 de dezembro nós entrávamos em fila, com um dos bonequinhos do presépio nas mãos, cantando noite feliz, à luz de velas, para depois abrirmos, ansiosos, nossos presentes. Depois, o jantar com cozido, bacalhau, polvo e sei lá mais o que, tudo cheirando a azeite de oliva. Uma casa portuguesa, com certeza. 
Hoje, no lugar da casa, se ergue um prédio de não sei quantos andares. Pena que a construção anterior perdeu seu espaço para a especulação imobilária, para a "modernidade".  Mas a arquitetura, o cheiro, as primaveras, as laranjeiras, as mangueiras, o limoeiro, e tudo o que vivemos lá continua lá, entre os alicerces do novo edifício. Sangue nosso correu ali, e ali continuará pelos tempos.
Lembranças podem também trazer tristeza, mas hoje me trouxe grande alegria. Foi uma delícia reviver esses momentos.

domingo, 17 de abril de 2011

Moqueca no domingo

Hoje foi um lindo dia. Os fins de semana têm sido deliciosos, em excelente companhia e muito divertidos. Ontem foi música com Carla, no Café St. Germain, e depois o repouso merecido ao lado de uma pessoa maravilhosa. Café da manhã tranquilo e cheio de carinho. 
Depois de tanta coisa boa e uma despedida em paz, sem medo, voltei a brincar na cozinha, meu hobbie favorito. Fiz moqueca de cação mangona com camarões, acompanhada de abobrinha grelhada, bezuntada em azeite de oliva e sal, e cuscus marroquino. 
Para começar, cebolas levemente fritas em azeite de oliva, depois os camarões temperados, um pouco de tomates e pimentões. 
Depois de cozidos, adicionei o peixe, joguei um pouco do vinho tinto (merlot) que estava tomando, deixei cozinhar um pouco e completei com o resto dos tomates e dos pimentões, com salsinha por cima de tudo. Isso feito em panela de barro que comprei há quase 20 anos de D. Adélia, uma indígena que fazia utensílios de barro em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. D. Adélia morava no bairro de São Francisco, tinha uma família numerosa, mas ninguém quis aprender seu ofício. Ela os sustentava, numa idade já avançada. Não sei se está viva hoje em dia, há muitos anos não vou a S.Sebastião (cidade onde passei as férias da infância, adolescência, lua-de-mel do primeiro casamento, e onde meus filhos cresceram e brincaram). Gostaria de saber que alguém deu continuidade a seu trabalho, sua sabedoria.
O resultado da moqueca está na foto, junto com a foto da abobrinha. 

Uma amiga veio almoçar comigo, conversamos muito sobre a vida, rimos, fizemos piada, falamos da vida alheia, como duas comadres queridas. Foi ótimo. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Morro do Lampião




Um encontro e um convite inesperado numa noite de samba em Santo Antônio de Lisboa me levou, no domingo pela manhã, a pular da cama e sair com uma amiga para a trilha do Morro do Lampião, aqui pertinho de casa. 
Saímos por volta de 10 da manhã, dia ensolarado mas não muito quente, protegidas pelo bloqueador solar, com água, bananas e muita disposição. De um grupo de várias pessoas, só fomos as duas corajosas, a amiga que me convidou e eu. Caminhamos pela Av. Campeche até a Rua Pau de Canela e seguimos por esta até a altura da entrada do morro. A princípio, o fôlego deu legal. As duas, animadas, ela de bermudas jeans, sapatos e meias de caminhada, e eu de calça de moleton (vermelha...rsrs), porque sei muito bem como adoro me arrebentar nas pedras e me arranhar nas plantas. Os tênis, aquele par marrom que comprei para fazer caminhadas quando fui para a Inglaterra, e me serviram maravilhosamente para as trilhas de Floripa. 
Subimos, subimos, subimos e subimos, e parávamos a cada tanto tempo para ganhar fôlego, tirar fotos, rir de nosso pouco preparo físico. Difícil olhar para cima. Minha amiga me ensinou a não ficar pensando no tempo que falta, não olhar para cima, mas pensar em cada passo do caminho. Comentamos que assim devemos também fazer na vida. O passado só ajuda a entender melhor o passo presente. Que é legal que nos concentremos no que estamos vivendo no momento, ao invés de ficarmos vivendo o passado ou pensando no que virá amanhã.


Paisagens lindas ficavam às nossas costas, e no meio do caminho encontramos pessoas, brincamos, rimos, falamos da vida, filosofamos. 
Depois de algumas paradas, chegamos a uma das pedras do topo do morro. Ali sentamos e fotografamos a costa leste da Ilha de Santa Catarina, paisagens lindas, recortes desde o Costão do Santinho até o Campeche. Dava para ver o recorte da Lagoa da Conceição e a imensidão de Moçambique. Ali na pedra encontramos uma gurizada legal. Assim que a gurizada desceu, subiu um rapaz...de bicicleta! Fiquei pensando como ele conseguiu a proeza. E como desceu, depois, com tanta pedra solta e descidas íngremes. Coisas de bikers....rsrs

Fomos à outra pedra, de onde se vê a costa oeste. Desde Ribeirão da Ilha até Carianos, e no cantinho dava até para ver a Ponte Hercílio Luz. Ali fotografamos mais, tomamos água, comemos bananas, rimos e filosofamos. 
Depois de um tempo que voou de tão bom, descemos a encosta, sempre registrando nas câmeras nossas impressões dessa paisagem linda.
Coroamos nosso passeio com um banho na piscina de uma amiga, e depois com um delicioso almoço no Nutri, na Armação.
Agradeço a minha amiga a companhia maravilhosa, solidária, divertida, e a oportunidade de conhecer essa trilha. Moçada, depois desta, estou certa que haverá muitas!!!

London River: nào percam

Se vocês ainda não assistiram Destinos Cruzados (London River, 2009), não fazem ideia do que estão perdendo. Não sou crítica de cinema, mas sei apreciar um bom filme, e esse é um bom filme. Os protagonistas, a britânica interiorana branca Elizabeth Sommers (Brenda Blethyn) e o africano muçulmano negro Ousmane (Sotigui Kouyaté)cruzam-se de forma inesperada: ambos procuram seus filhos em Londres, possíveis vítimas dos atentados simultâneos a ônibus e metrô que ocorreram em Londres em 2005. Ator e atriz dão um banho de interpretação, fazendo com que os espectadores sintam a forte emoção da dor de pais que procuram seus filhos desaparecidos. Sommers, com seu medo e preconceito, seu desespero, entra em conflito consigo mesma ao ter que lidar com o fato de que sua filha vivia com o filho de Ousmane, e de que, de alguma forma, sua vida estava ligada àquele homem silencioso, expressivo, e que segue, como ela, obstinadamente, atrás de notícias dos jovens desaparecidos. 
O cinema perdeu esse grande ator, Kouyaté, morto aos 73 anos, em abril de 2010.