segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Poema IX

IX

Esse poeta em mim sempre morrendo
Se tenta repetir salmodiado:
Como te esquecer, arquiteto do tempo
Como saber de mim, sem te saber?
Algidez do teu gesto, minha cegueira
E o casto incendiado momento
Se ao teu lado me vejo. As tardes
Fiandeiras, as tardes que eu amava,
Matéria de solidão, íntimas, claras
Sofrem a sonolência de umas águas
Como se um barco recusasse sempre
A liquidez. Minhas tardes dilatadas

Sobreexistindo apenas
Porque à noite retomo minha verdade:
Teu contorno, teu rosto, álgido sim

E porisso, quem sabe, tão amado. (Hilda Hilst)

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