domingo, 10 de janeiro de 2010

Sonetos e sonetistas

Quando meu filho mais velho começou a fazer sonetos, fiquei pensando como é que ele consegue pensar tema, rima e métrica, eu que sou completamente caótica na minha escritura, que quando consigo uma rima é do tipo coração com mão ou filão com pão. Mas admiro demais essa capacidade do Bruno. Ele tem publicado seus trabalhos no www.osolhosdopoeta.blogspot.com.
Há uns dias estava limpando minha estante, quando me deparei com um livrinho chamado Madrugada, publicado em 1921, no Rio de Janeiro, com poemas, na maioria sonetos datados de 1915 e 1916, de meu avô Renato de Castro Lima. Bruno estava aqui em casa passando férias, e mostrei a ele o livro. Ficamos encantados, pois não sabíamos dessa faceta de meu avô. Bruno nem chegou a conhecê-lo, o que descarta a possível influência dele na criação artística do neto.
Sei que nossa família é toda meio performática, meus pais tocavam piano, minha mãe escreve muito bem, meu pai tocava gaita e era um desenhista incrível (era arquiteto), meu sogro era clarinetista, Bruno tocou tuba e teclado, atuou em mímicas e teatro, meu ex-marido foi ator e toca violão e canta, Daniel canta e toca um pouco de violão e André tocou teclado durante muito tempo e e extremamente musical. Eu mesma escrevi muitos poemas e ainda escrevo contos, mas nunca sonetos. Toquei piano, atabaque, cantei. André fala e escreve em inglês fluentemente, sem nunca ter viajado ao exterior e agora está aprendendo japonês. Tem uma habilidade incrível para aprender línguas estrangeiras e para ritmos. Enfim, uma família cheia de gracinhas e musicalidade, e o dom da palavra, escrita ou falada. Mas sonetos... isso é herdado do avô paterno, tenho certeza. Como explicar esse dom? Nao vejo outra possibilidade. Bem, mas para terminar esta divagação, vou publicar aqui um dos sonetos de meu avô, com a mesma grafia antiga que está no livro. Tentei pegar um dos sonetos do Bruno para postar também, mas o blogspot estava muito lento e não consegui acessar:

ARTE (1915)

A´s vezes, alta noite, quanto venho
-rumo de casa - descansar da luta,
olhando a lua doce e branca tenho
o pensamento longe da labuta...

Acceito a vida, ás vezes como um lenho,
outras como uma taça de cicuta, -
e como fica, então, menos ferrenho
o interesse com que ando na disputa...

Mas, o continuo anseio de ser grande
na arte do verso que cultivo e estudo,
minha alma em sonhos se engrandece e expande...

Arte! Como é sereno teu poder!
Na protecção que encontro em teu escudo,
acho todo o incentivo de viver!

Um comentário:

  1. que poesia linda mamãe!!!! te amo!
    mudei meu blog pra ver se fica mais leve.. beijinhos

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