Nascer mulher já implica numa série de impossibilidades e fragilidades socialmente construídas que vão desde a preocupação com a existência e a tentativa de preservação daquele pedaço de pele chamado hímem até aquela coisa pior, que é a vigilância masculina e a pretensa proteção (e posse) desse buraco chamado vagina. Mulheres não são seres humanos, são um monte de carne a serviço do macho, e ai daquelas que não correspondem ao ideal masculino! Relegadas ao nicho do caritó, dos tribufus, das machonas, marimachas, caminhoneiras, dragões, gordas, velhas etc. Horrorizada leio no DC, todos os dias, sobre assassinatos de mulheres por seus amantes, namorados, maridos, ou ex-isso-tudo. É incrível como se matam mulheres no Estado de Santa Catarina. "Machões" de plantão, inconformados com a separação, "machões" incapazes de reconstruir a vida sem a destruição da vida do outro, "machões" incapazes de respeitar o outro. Hoje li na internet sobre uma adolescente turca de 16 anos que foi enterrada viva pela família que não concordava com o fato de que ela "andava" com guris de outra casta, ou algo assim. Um "crime de honra". Aqui os "crimes de honra" não são menores. Homens esganam suas ex-mulheres, atiram para matar, exibindo o poder de vida e morte sobre aquelas que um dia foram suas companheiras. Vimos, atônitas, o assassinato da cabelereira pelo ex-marido, que já havia sido condenado. Esse homem voltou e a matou. Uns anos de cadeia, se é que pegará cadeia, e estará livre para continuar. A mulher, valente, que enfrentou esse monstro, está morta.
Mas a minha pergunta é: por que os homens se comportam dessa maneira ignóbil, por que a sociedade continua criando essa gente sem amor? No início dos anos 1980, se não me engano, houve uma mini-série na Rede Globo chamada "Quem ama não mata", com Marília Pera e Cláudio Marzo, se não me engano. Típico casal em final de relacionamento, ele descarrega o revólver nela. Antes disso, tivemos o caso Ângela Diniz e Doca Street, e esse não foi mini-série. Fotos da casa deles em Búzios, onde o crime foi cometido por um Doca Street drogado, bêbado e enraivecido, que matou a mulher, provavelmente drogada, bêbada e enraivecida também. Mas ele atirou nela. Várias vezes. Há pouco tempo vivi um drama bem próximo de mim, com minha ex-namorada, que acabou tristemente. Desta vez o agressor acabou levando a pior, mas só porque morreu antes de conseguir matar alguém. Drogadito, volta e meia agredia a ex-mulher e ameaçava matar os filhos. Foi trágico da mesma forma.
O que podemos fazer para conter essa onda de violência, a necessidade de "possuir" a outra pessoa, não lhe dando espaço para viver outras relações, ser feliz com outras pessoas? Acho que a escola e a ética familiar, acima de tudo, pode ajudar a mostrar o caminho para essas pessoas. Temos que mudar a mentalidade de gente acostumada a ter tudo, a não abrir mão de nada, a não respeitar o outro, a tomar o que quer seja por bem ou por mal. Se formos por esse caminho, quem sabe teremos menos violência de gênero em nosso país.
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